Uma estudo baseado nesta obra escrita por Lewis Bayly e exposto capítulo a capítulo por capítulo na Igreja Reformada Vida e Plenitude, pelo Rev. Gustavo Maurício. Todo estudo está em uma playlist.
"A Prática da Piedade"
Teologia Para a Vida Cristã
Estudo da obra "A Prática da Piedade" (Lewis Bayly) - Capítulo por Capítulo
Uma estudo baseado nesta obra escrita por Lewis Bayly e exposto capítulo a capítulo por capítulo na Igreja Reformada Vida e Plenitude, pelo Rev. Gustavo Maurício. Todo estudo está em uma playlist.
Pietas Didaquê
Os Puritanos - O Conceito, história e a prática
Por José Eduardo
Introdução
O termo tem sido usado para estigmatizar pessoas severas, sem afeições amorosas ou retrogradas, mas isto é um engano. O puritanismo nos deixou um legado Bíblico, um fervor cristocêntrico e uma submissão a Deus cheia de alegria. Por conta disto os puritanos desenvolveram uma enorme afeição pela pregação e afeto com seus ouvintes. Pastores devotados as suas congregações, que estavam preocupados com o discipulado da igreja e o desenvolvimento da comunidade em redor da igreja. Não é à toa que os "pais peregrinos" ao desembarcarem na América do Norte preocuparam-se com a formação do seu povo construindo escolas e universidades com Havard, Princeton e Yale. Mas é verdade, quanto ao seu apego primordial, as Escrituras, isso era admirável e inegociável, o que com toda certeza os tenha levado a rotulações, tais como intransigentes e sua vida cotidiana tratada por muitos de nós como atrasada. Porém, é da voz de um anglicano, aquilo que nos faz lembrar o que é ser um puritano. Este anglicano foi John Trapp, e disse ele: "Onde a Bíblia não tem voz, não devemos ter ouvidos."
Conceito e Histórico
O Puritanismo se destaca por ser um movimento em prol das Escrituras reafirmando-as como suficiente para instrução a piedade. O movimento ganha forma ao lutar por uma reforma completa da Igreja da Inglaterra no século XVI, no período de reinado de Elizabete I (1558). Cristãos ingleses neste período procuraram “purificar” a Igreja da Inglaterra, daí vem o termo puritano, um apelido criado para tentar diminuir o caráter e as intenções destes cristãos ingleses. Mas esta tentativa de diminuição não funcionou. Quem não concorda que nossa busca pela pureza da igreja é o nosso dever? Neste sentido, se alguém nos chamar de puritanos porque insistimos na pureza, então isto não é uma ofensa. Portanto, pensar no puritanismo é considerar que ele é uma expressão não só de mera purificação com o abandono de certos hábitos, mas também de buscar conhecer a vontade de Deus, da necessidade que temos de nos "amarrar" a Palavra de Deus para que nela tenhamos segurança real. Por isso os puritanos sempre trabalharam incessantemente na leitura doméstica das Escrituras, regulando a vida no Evangelho, o culto público modesto como uma forma de deixar sempre as vistas e aos ouvidos dos presentes a exposição da Bíblia, e o caráter dos crentes para testemunho das verdades Bíblicas e de Jesus Cristo.
As asseverações na Igreja Inglesa Protestante (anglicanismo) iam das indumentárias que os puritanos assim consideravam desnecessárias que remetiam a igreja aos exageros litúrgicos do catolicismo romano, além dos severos Seis Artigos, impostos por Henrique VIII (em 1539) com punições para os transgressores (“o açoite sangrento de seis cordas”), estes elementos foram profundamente combatidos pelos puritanos. Muitos foram martirizados neste período como: Hugh Latimer (em 1555), Nicholas Ridley (em 1555) e Thomas Cranmer (em 1556). Ainda outros elementos de culto como sinal da cruz em batismos e o ato de ajoelhar-se eram tidos como desnecessários, isto incluía ao gesto comum de se ajoelhar diante dos elementos da ceia. Estes pontos eram combatidos, pois sugeriam uma reverência a objetos de culto onde quem deve receber toda a nossa reverencia é Deus. Partindo deste princípio, a modéstia do culto puritano apontava para poucas expressões, diferente dos costumeiros atos de levantar e sentar nas missas romanas e anglicanas, que se propunham a encucar nos fieis que isto representava um sinal de respeito a Deus, enquanto os puritanos declaravam que se fazia necessário uma inclinação de coração. Mas não subestimemos a simplicidade puritana do culto. A particularização do cântico dos Salmos em seus cultos demonstrava o zelo pela Escrituras. Seus sermões eram meticulosamente estudados pela família, o que isto nos leva a pensar o quanto cada cristão e cada família eram comprometidos com as Palavra de Deus. Estas são singularidades que os fizeram gigantes em seu tempo.
John Knox[1], um dos pais puritanos perseguidos, ao expor suas posições quanto a modéstia na adoração conclamou um dos solas da Reforma – sola scriptura. “Somente a Escritura deve ser o guia para a adoração. Todas as práticas e observâncias na igreja que não têm autoridade escriturística, devem ser abolidas. ” Estas palavras de Knox deixa claro que o movimento buscava uma pureza objetivada naquilo que as Escrituras instruíam os crentes. Considerando que a ceia e o batismo são obras ordenadas para um fim de anunciar aos homens a morte e ressurreição do Cristo e a aclamação de indivíduos na igreja que Cristo comprou, escreve Rutherford[2]: “o que quer que nos faça perfeitos e perfeitamente habilitados para toda a boa obra, e essa é a finalidade para a qual foi escrito este trecho, que qualquer Timóteo, ou pastor fiel pode saber como deve proceder na Casa de Deus ... deve constituir uma base perfeita de disciplina, que não varia, sem fluxo e refluxo e sem alteração conforme o governo civil, as leis, os hábitos e os costumes dos homens. Mas as Escrituras de Deus assim instruem todos os membros da Igreja visível, tanto os governadores como os governados (2 Tm.3:16,17, 2 Tm.3.14,15)”.
O Perfil Puritano
Alderi Souza[3] apresenta dentro do movimento um perfil e características gerais dos puritanos:
Terminologia
Não-conformistas: esse termo surgiu na história inglesa quando puritanos e separatistas não quiseram aderir à Igreja da Inglaterra (oficial) desde 1660 até o Ato de Tolerância (1689). Não-conformidade é a atitude de não se submeter a uma igreja oficial.
Separatistas: termo aplicado ao puritano inglês Robert Browne
(c.1550-1633) e seus seguidores, que se separaram da Igreja da Inglaterra. Mais
tarde foi aplicado aos congregacionais ingleses e outros grupos que formaram
suas próprias igrejas.
Não-separatistas: os puritanos anglicanos, aqueles que não queriam separar-se da igreja oficial, mas procuravam reformá-la. Os fundadores de Salem e Boston (1629-1630) estavam nessa categoria.
Independentes: nos séculos 17 e 18, os adeptos da forma de governo congregacional, em contraste com o governo episcopal da igreja estatal inglesa.
Dissidentes: aqueles que se retiraram da igreja nacional da Inglaterra (anglicana) por motivos de consciência. O termo inclui congregacionais, presbiterianos e batistas.
Características gerais
Os “não-conformistas”, como também eram chamados, em geral eram ministros com educação universitária, oriundos principalmente de Cambridge, embora também houvesse leigos ardorosos entre eles.
Entendiam que a Igreja Inglesa devia adotar como modelo as igrejas reformadas do continente.
O puritanismo influenciou a tradição reformada no culto, governo eclesiástico, teologia, ética e espiritualidade. Quatro convicções básicas: (1) a salvação pessoal vem inteiramente de Deus; (2) a Bíblia constitui o guia indispensável para a vida; (3) a igreja deve refletir o ensino expresso das Escrituras; (4) a sociedade é um todo unificado.
O sentido original do termo “puritano” apontava para a
purificação da igreja, isto estava óbvio à medida que os puritanos queriam descartar
os elementos arquitetônicos, litúrgicos e cerimoniais que consideravam
conflitantes com a simplicidade Bíblica. Por exemplo, eles objetavam o sinal da
cruz no batismo e a genuflexão para receber a Santa Ceia.
Ao invés de paramentos elaborados (sobrepeliz), eles preferiam uma toga preta que simbolizava o caráter do ministro como um expositor da Bíblia no culto.
Queriam que cada paróquia tivesse um ministro residente capaz de pregar. Para alcançar esse objetivo, promoviam reuniões de ministros para ouvir sermões e receber orientação pastoral (suprimidas por Elizabete).
Sofrendo oposição dos bispos e estando comprometidos com uma eclesiologia que dava ênfase à igreja como uma comunidade pactuada, muitos puritanos rejeitaram o episcopado.
Thomas Cartwright promoveu o presbiterianismo (1570). Robert Browne, mais radical, advogou um sistema congregacional e defendeu a imediata separação da “corrupta” Igreja da Inglaterra (1582). Alguns de seus seguidores “separatistas” foram para a Holanda.
Congregacionais mais moderados, conhecidos como “independentes”, não chegaram a defender a separação. Eles influenciaram os puritanos da Baía de Massachusetts e se tornaram a corrente principal do congregacionalismo inglês.
Outros puritanos, como Richard Baxter (1691), queriam um “episcopado atenuado” que associava características presbiterianas e episcopais.
Os puritanos não estavam interessados somente na purificação do culto e do governo eclesiástico. Todo o corpo político também precisava de purificação. Apoiando-se em Martin Bucer e João Calvino, eles insistiram na criação de uma sociedade cristã disciplinada. Achavam que uma nação inteira podia fazer uma aliança com Deus para a realização desse ideal. Esperanças milenaristas e o exemplo do Israel bíblico os impeliram nessa direção.
O puritanismo prático na família, na Igreja e na sociedade
Ao ler sobre os puritanos não é difícil concluir que eles foram notáveis cristãos práticos. Sobre tudo, eles eram práticos no desenvolvimento de sua teologia na família. A forte aplicação da teologia do pacto e a responsabilidade dos pais na formação de seus filhos podem ser descrita na narrativa particular de Joel Beeke em seu livro Adoração no Lar.
“Pai, a lembrança mais remota que tenho é a de lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto você nos ensinava sobre como o Espírito Santo guia os crentes, nas noites de domingo, quando usava o livro O Peregrino. Quando eu tinha três anos de idade, Deus o usou em nosso culto doméstico para me convencer que o cristianismo era verdadeiro. Não importa o quanto tenha me desviado nos últimos anos, nunca pude questionar seriamente a veracidade do cristianismo e quero lhe agradecer por isso”[4]
A rapidez com que estes irmãos praticavam a teologia na família pode ser observada na história. A forma como o presbiterianismo se desenvolveu na Escócia, que se deu em diversos processos, especialmente entre 1643 e 1712, nos dá sensação de que existia uma disposição vigorosa para o avanço da proclamação e as transformações sociais. Mas nada disto poderia estar longe dos arraias dos lares puritanos. Carlos I e Willian Laud, querendo impor a liturgia anglicana tiveram que lidar com um surpreendente crescimento dos puritanos na ocasião da convocação de eleições parlamentares. Para surpresa dos impositores o Parlamento era de maioria puritana. Este é um efeito social, não sendo somente um processo de evangelização nacional; o puritanismo brotava de suas próprias casas. O Rev. David Lipsy nos dá uma boa definição para esta questão:
“Para os puritanos, a ligação do matrimônio era considerada ‘a fonte e raiz principal e original de todas as outras sociedades’. Em outras palavras, se os casamentos não eram bons, como poderia a igreja ou a sociedade ser?”[5]
Com Carlos II não foi diferente. Se o seu pai, juntamente com Willian Laud queriam impor uma liturgia oficial, Carlos II desejava um sistema episcopal oficial. Então os puritanos e presbiterianos escoceses ergueram um pacto nacional que defenderia até a morte a autonomia da igreja da Escócia. No entanto, que se pode observar é que o relato pessoal de Joel Beeke sobre a vida devocional de sua família puritana é uma síntese do modelo de vida que deu vigor a todos os movimentos[6].
Alderi Souza nos deixa mais um relato que corrobora com a
narrativa pessoal de Joel Beeke: “A ênfase prática da teologia puritana levou-a
a dar grande atenção à ética pessoal e social em casos de consciência,
discussões sobre vocação e o relacionamento entre a família, a igreja e a
comunidade no propósito redentor de Deus.”[7]. Os puritanos acertadamente davam
atenção a família e como isto poderia produzir um efeito social. Se
desconsiderarmos este ponto crucial da vida puritana o puritanismo prático não
tem qualquer sentido.
Infelizmente o puritanismo é caricaturado como um movimento de pessoas sisudas, legalistas e inflexíveis. Talvez por conta de sua intrepidez teológica e social, seus inimigos, para os depreciar pintaram um quadro obscuro destes irmãos notáveis. Este quadro obscuro não pode vencer o efeito legítimo dos puritanos na Inglaterra, Escócia, Irlanda, Holanda, Países Baixos e mesmo aqui no Brasil com a figura do Rev. Robert Kalley. O puritanismo não nasce somente pelo desejo de purificar a igreja, todo puritano legítimo deseja que sua família seja pura, que seus filhos temam a Deus. O crescimento relevante dos puritanos precisa ser associado ao ardente desejo de dizer que “eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15).
__________
[1]John Knox: Livro – “Sobre Liturgia e Adoração”, redigido por Rev. Daniel Klein – Editora Os Puritanos, pg. 2
[2] Ian Murray: Livro – “As Escrituras e as Questões Indiferentes – Um Problema Central na Controvérsia Puritana”, Editora Os Puritanos, pg. 24
[3] Alderi Souza: Artigo: “Puritanos e Assembléia de Westminster - OS PURITANOS: SUA ORIGEM E SUA HISTÓRIA”, link: http://www.mackenzie.br/7058.html
[4] Joel Beeke, “Adoração no Lar”, editora Fiel, 2011, p. 9, 10
[5] Rev. David Lipsy, trecho de “A Mulher Puritana”, palestra proferida na “Conferência da Mulher – HNRC” no ano de 1998 pelo Pr. David Lipsy. Traduzido e publicado em português originalmente na ”Revista Os Puritanos” (Ano XII, nº 02:2004), republicado em Mulheres Piedosas com permissão do Projeto Os Puritanos e do autor.
[6] Alderi Souza de Matos, “História do Movimento Reformado, O PRESBITERIANISMO NA ESCÓCIA (2ª PARTE)”, Instituto Presbiteriano Makenzie, http://www.mackenzie.br/7015.html
[7] Alderi Souza de Matos, “História do Movimento Reformado, OS PURITANOS: SUA ORIGEM E SUA HISTÓRIA”, Instituto Presbiteriano Makenzie, http://www.mackenzie.br/7058.html
A razão pela qual eu me concentro em Jesus Cristo
Por José Eduardo
A doutrina bíblica e reformada da vocação
Os cristãos atuais frequentemente falam sobre transformar a sociedade. Um exemplo radical de como um ensino teológico teve um impacto social revolucionário é a doutrina da Reforma sobre a vocação. Na Idade Média, a sociedade era altamente estruturada, hierárquica e estática. Isso mudaria, começando no ano de 1500, como uma consequência não intencionada da doutrina de Lutero sobre a vocação.
A doutrina da vocação
Para Lutero, vocação — a palavra latina para “chamado” —
significa muito mais do que um emprego ou profissão. Vocação é a doutrina de
Lutero sobre a vida cristã. Mais do que isso, a vocação é a maneira como Deus
trabalha através dos seres humanos para governar a sua criação e conceder os
seus dons.
Deus nos dá nosso pão diário por meio de fazendeiros,
moleiros e padeiros. Ele cria e cuida de uma nova vida por meio de pais e mães.
Ele nos protege por meio das autoridades legais. Ele proclama a sua Palavra e
administra os seus sacramentos por meio de pastores. A vocação, disse Lutero, é
uma “máscara de Deus”, uma maneira pela qual ele se esconde nas relações e
tarefas comuns da vida humana.
Um texto-chave para a vocação é 1 Coríntios 7.17: “Ande cada
um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado”.
O contexto imediato dessa passagem tem relação com o casamento. Nossas
famílias, nossa cidadania em uma determinada comunidade ou sociedade, nossas
congregações e, sim, nossos locais de trabalho são todos facetas da vida para
as quais Deus nos designou e nos chamou.
O propósito de todos os nossos chamados é amar e servir os
próximos que cada vocação introduz em nossas vidas (no casamento, nosso
cônjuge; na paternidade, nossos filhos; no local de trabalho, nossos clientes;
e assim por diante).
Somos salvos somente pela graça, pela fé na obra de Jesus
Cristo. Mas, depois, somos enviados de volta aos nossos chamados para que
vivamos essa fé. Deus não precisa das nossas boas obras, disse Lutero, pensando
nos esforços exaustivos para merecer a salvação para além do dom gratuito de
Cristo, mas o nosso próximo precisa das nossas boas obras. Nossa fé dá fruto em
amor (Gálatas 5.6; 1 Timóteo 1.5), e isso acontece em nossas famílias,
trabalho, comunidades e congregações. Nesses chamados, também carregamos nossas
cruzes, pecamos e encontramos perdão, e crescemos em fé e santidade.
Os estamentos
A sociedade medieval era dividida em três estamentos: o
clero (“aqueles que oram”); a nobreza (“aqueles que lutam”, ou, na prática,
“aqueles que governam”); e os plebeus (“aqueles que trabalham”).
Pensava-se que o clero tinha uma “vocação”, um chamado
distinto de Deus para buscar “a vida espiritual” para além do mundo. Dedicar-se
completamente à oração e aos exercícios espirituais era considerado de muito
maior valor do que aquilo que poderia ser encontrado nos estamentos seculares.
Entrar em uma ordem religiosa exigia votos de celibato, pobreza e obediência.
Para Lutero, essa busca por mérito não somente era uma rejeição do evangelho,
mas tais votos repudiavam os próprios reinos da vida — família, trabalho,
governo — que Deus estabeleceu. Esses reinos, ele insistiu, também eram
vocações cristãs.
Lutero redefiniu os estamentos como instituições designadas
por Deus para a vida terrena. Essas instituições são a igreja, o Estado e o lar
(a família e seu trabalho econômico). Essas eram paralelas aos estamentos
medievais do clero, nobreza e plebeus. Mas enquanto na Idade Média essas eram
três categorias sociais separadas, para Lutero, essas são esferas de vida nas
quais todo cristão habita e nas quais todo cristão tem vocações.
As distinções sociais rígidas entre três estamentos —
aqueles que oravam, aqueles que governavam e aqueles que trabalhavam —
desmoronaram. A vida de oração não é apenas para uma classe sacerdotal, mas
para todos os crentes. O Estado não é apenas a preocupação de uma elite
governante, mas de todos os seus cidadãos. O lar não é apenas para os plebeus.
Todos, incluindo o clero, podem ser chamados para o casamento e a paternidade.
Todos, inclusive a nobreza, são chamados ao trabalho produtivo. Todos oram.
Todos (eventualmente) governam. Todos trabalham.
O impacto social da Reforma
Outra nomenclatura para a doutrina da vocação é o sacerdócio
de todos os crentes. Deus chama alguns cristãos para serem pastores, mas ele
chama outros cristãos para exercerem o seu sacerdócio real ao ararem campos,
forjarem aço e iniciarem negócios. Mas todos os sacerdotes — incluindo os
camponeses e moças serviçais — precisam ter acesso à Palavra de Deus. Assim,
durante a Reforma, as escolas abriram e a alfabetização floresceu.
Os plebeus instruídos subiram a escada social e poderiam
governar, eventualmente. Os trabalhadores que amavam e serviam os seus clientes
por meio dos seus trabalhos encontraram sucesso econômico. Enquanto Lutero se
dirigia a uma sociedade estática pós-medieval, Calvino e posteriormente os
puritanos adaptaram a vocação ao emergente mundo moderno. Eles deram ênfase aos
chamados do local de trabalho e encorajaram os cristãos a aceitarem as novas
oportunidades às quais Deus os estava chamando. Assim, a Reforma proporcionou
uma mobilidade social sem precedentes.
Estranhamente, a doutrina da vocação tem sido esquecida
hoje. O que uma redescoberta da vocação faria à sociedade atual?
__________
Tradução: Camila Rebeca Teixeira
Revisão: André Aloísio Oliveira da
Silva
Original: How Vocation Transformed
Society
Extraído:
O que Jesus na prática quis dizer com: "não vim trazer paz, mas espada"? (Mt 10.34)
Por José Eduardo
O mundo é um misto de tudo. E um dos maiores apelos do mundo é a cultura. E por que? Porque a cultura é o resultado do processo dos costumes, o etos. Isto torna-se tradições, e como as clãs no passado necessitavam de afirmações para serem notadas e respeitadas, isto foi se consolidando como algo intocável. Eu vou citar um exemplo muito objetivo quanto a esta questão. Lendo um periódico da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) sobre a evangelização dos índios Terena no Matogrosso (deixarei o periódico disponível ao final deste artigo)[1], que apesar do caso em si não afirmar que todos os Terenas foram de fato convertidos, pois muitos deles estavam expostos a disputas político-religiosas entre si para se afirmarem na "sociedade civilizada", o que temos em curso é que, os Terenas de 1860-1960 nunca mais foram os mesmos. Uma das evidências é que, na disputa pela evangelização deles entre católicos e protestantes, e busca dos próprios Terenas pela afirmação na "nova sociedade", eles em parte eram paroquiais e romanizados e em parte eram protestantes, mas em muitos casos, o xamanismo os unia novamente, mesmo porque, do ponto de vista sociológico, o xamanismo era também uma forma de equilibrar a balança cosmológica dos terenas[2]. O xamanismo é um ritual ancestral para se estabelecer contato com os espíritos. O que estou querendo dizer com isso é que, os próprios Terenas em sua grande parte adaptou a sua cultura indígena, convivendo com o cristianismo e o xamanismo ao mesmo tempo. Os antropólogos, sociólogos, ativistas e simpatizantes de ideia de que nenhuma cultura deve ser modificada por elementos externos parecem não considerar que os próprios cultivadores das suas culturas muitas vezes não querem essa defesa. E este é só um lado da questão. Não estou nem entrando na parte em que Jesus Cristo entra nesta questão. Até aqui só estou acompanhando o processo pela perspectiva dos Terenas que, aproveitando o momento de autoafirmação, permearam o cristianismo a sua cultura, fazendo modificações internas na ética da tribo o que é óbvio. Ao ler o periódico, você terá esta clara noção.
RESPOSTA 1
"Em que sentido não deixa de ser judeu? Porque para eles o judaísmo é uma identidade nacionalista e uma religião. Em certo sentido, um judeu convertido terá que abandonar o etos religioso que é parte da cultura judia. Por lá essas coisas se misturam."
Há pessoa que realmente, Jesus esteve e está preocupa que um cristão viva para reafirmar suas tradições culturais seculares.
ARGUMENTO 2 - JESUS ERA JUDEU (LOGO ISTO É BASE SUFICIENTE PARA SAIRMOS EM DEFESA DA CULTURA?)
"Muito bom, Jesus é judeu inclusive"
Claro, o melhor argumento é que Jesus era judeu, isto reforça o imaginário. Mas nem se deu o trabalho de verificar as "entrelinhas" que evidenciam os reais fatos.
RESPOSTA 2
"Ele foi judeu. Por exemplo, quando ele voltar, ele não virá como um ser étnico, mas celestial. Até mesmo Paulo, que foi um tradicional judeu considerou isso como perda para se aproximar de Cristo (Fp 3.1-8). Jesus não chamou ninguém a apegos culturais."
Eu cito o texto de Filipenses 3, e nem fui tão a fundo nas palavras mais "politicamente incorretas" de Paulo que diz que considerava tudo como esterco. Mas o erro da excessiva defesa da cultura secular continua:
ARGUMENTO 3 - JESUS ERA JUDEU (LOGO ISTO É BASE SUFICIENTE PARA SAIRMOS EM DEFESA DA CULTURA?)
Fisicamente? Então a Jesus resta isto?
RESPOSTA 3
"Não acho que alguém precise de fato romper com sua cultura, mas isso ocorre naturalmente no cristianismo, quer pela oposição que a cultura secular faz a fé, quer porque Jesus Cristo irrompe com isto. Culturalmente ele nem deveria pisar em Samaria, mas fez isso."
Se o fato de Jesus ser fisicamente ser judeu fosse tão relevante, o que ele estava fazendo em Samaria, sendo judeu? Ele estava lá como judeu ou como Messias?
A piedade cristã exige de nós rompimentos, mas não desafetos. Uma coisa é bem diferente da outra. Talvez, no imaginário coletivo, a cultura seja aquela fonte primitiva de segurança. O que é um ledo engano. Não estamos seguros nela. Ela jaz no mundo que trás aflições. Por outro lado, nos asseguramos em Jesus Cristo, firmeza nossa.
Solus Christus
__________
[2] Protestantismo a Moda Terena, pg. 135-136 (https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/2259/1/protestantismo_a_moda_terena.pdf)
[3] Indígenas terena têm rede de igrejas evangélicas - Artigo da Revista Ultimato de 2013 - https://www.ultimato.com.br/conteudo/indigenas-terena-tem-rede-de-igrejas-evangelicas
[4] Conheça a CONPLEI - https://www.conplei.org.br/
A Beleza da Santidade
“Adorai o Senhor na beleza da santidade” (Salmos 29:2). Santidade é a antítese do pecado, e a beleza da santidade está em contraste direto com a feiura do pecado. O pecado é uma deformidade, uma monstruosidade. O pecado é repulsivo, repelente ao Deus infinitamente puro; é por isso que Ele escolheu a lepra, a mais repugnante e terrível de todas as doenças, para ser seu emblema. Quando o Profeta foi divinamente inspirado para descrever a condição degenerada de Israel foi nestas palavras: “Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres” (Isaías 1:6). Oh, que o pecado fosse repugnante e odioso para nós; não apenas em suas formas mais grosseiras, mas o pecado em si. No extremo oposto da hediondez do pecado está a “beleza da santidade”. A santidade é amável aos olhos de Deus, é necessariamente assim. Ela é o reflexo da Sua própria natureza, pois Ele é “glorioso em santidade” (Êxodo 15:11); oh, que ela possa ser cada vez mais atraente e mais sinceramente buscada por nós. Talvez a maneira mais simples de trazer à tona a beleza da santidade será em contrastá-la a partir das belezas temporais e do sentido.
Em primeiro lugar, a beleza da santidade é imperceptível para o homem natural, e é aí que ela difere radicalmente das belezas da mera natureza. Ele pode contemplar e admirar um lindo vale, o rio que flui suavemente, os pinheiros da montanha, a queda d’agua da cachoeira, mas para a excelência das graças espirituais, ele não tem olhos. Ele considera como covarde alguém que (pela graça) humildemente se submete a provações dolorosas. Ele olha para aquele que nega a si mesmo por amor de Cristo como um tolo. Ele considera o homem que segue rigorosamente o caminho estreito como aquele que perde o melhor da vida. O homem natural é totalmente incapaz de discernir a excelência do que é de grande valor aos olhos de Deus; alguém acha que estamos dizendo isso muito severamente? Então, deixe-o ser lembrado do fato solene de que quando o Santo habitou aqui na terra o não-regenerado não viu nEle “nenhuma beleza” para que O desejassem (Isaías 53:2), e é o mesmo hoje. Deus deve remover as escamas dos olhos do nosso coração antes que possamos perceber que a santidade é bela.
Em segundo lugar, a beleza da santidade é real e genuína, e é aí que ela difere radicalmen- te de grande parte da beleza que é vista no mundo. Quanto do que atrai o olhar do homem natural é artificial e fictício. Quanta beleza humana é forjada, produto dos artifícios de salão. Mesmo quando a beleza física é natural, quão raramente é acompanhada de virtudes mo- rais. Não admira que os nossos antepassados estavam acostumados a dizer: “A beleza é apenas superficial”. Não é assim com a beleza da santidade; ela está enraizada no homem interior, e lança a sua influência purificadora sobre todo o ser. “Enganosa é a graça, e vã é a formosura” (Provérbios 31:30). Mas a santidade não decepciona seu possuidor, pois a sua beleza é espiritual e Divina. É verdade que há muitas falsificações no mundo religioso, mas o artigo genuíno tem um anel que ele, o piedoso, não pode confundir.
Em terceiro lugar, a beleza da santidade é permanente, e é aí que ela difere radicalmente de toda a beleza da Terra. O vale arborizado, cujas tonalidades variadas são tão agradáveis sob o sol de verão, é desfolhado e monótono quando chega o inverno. O pôr-do-sol glorioso que a inteligência humana não pode nem produzir nem reproduzir adequadamente desa- parece em poucos minutos. O mais belo rosto humano murcha rapidamente: “toda a sua beleza se foi” (Lamentações 1:6). Mesmo quando é preservada até o fim de uma vida curta, “sua formosura se consumirá na sepultura” (Salmos 49:14). Sim, há mudança e decadência em tudo o que vemos. A única beleza que é imperecível e eterna é a beleza da santidade. O fruto do Espírito nunca perderá a sua flor; graças espirituais serão perseveradas depois deste pobre mundo todo ter virado fumaça. Quão fervorosamente, então, devemos orar: “Seja sobre nós a formosura do SENHOR nosso Deus” (Salmos 90:17).
Em quarto lugar, a beleza da santidade é satisfatória, e aqui ela difere radicalmente da beleza das coisas do tempo e sentido. Mais cedo ou mais tarde estas igualmente enfastiam- se em alguém, senão deixam um vazio doloroso. Observe o viajor que peregrina de leste a oeste, de norte a sul, buscando novas paisagens. Em quanto tempo ele se cansa, des- cobrindo que a paisagem mais bela não pode fornecer o contentamento de espírito e paz de coração. O homem é mais do que uma criatura material, e, portanto, requer algo mais do que coisas materiais — não importa o quão belas — para atender às suas necessidades. São as coisas do Espírito somente, que dão satisfação. “Piedade com contentamento é grande ganho” (1 Timóteo 6:6). Na verdade, o Cristão nunca está satisfeito com a sua pró- pria santidade; sim ele continua a ter fome e sede de justiça, até o fim de sua jornada no deserto; apesar do mais santo que sejamos, o mais próximo que andemos com Deus, o mais real descanso da alma que desfrutemos. E a abençoada sequência demonstrará o contraste ainda mais claramente; ao em vez de descobrir que só temos perseguido as sombras, o Cristão tem a certeza: “eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar” (Salmos 17:15).
Em quinto lugar, a beleza da santidade é glorificar a Deus, e é aí que ela difere radicalmente de muita beleza humana. Glorificar o seu Criador é o dever sagrado do homem, e nada honra-O tanto quanto o nosso caminhar na separação de tudo o que é desagradável para Ele. Mas, infelizmente, encantos físicos e graças espirituais raramente são encontrados nas mesmas pessoas. Um notável exemplo disto é visto no caso de Absalão de quem está re- gistrado: “Não havia, porém, em todo o Israel homem tão belo e tão aprazível como Absa- lão; desde a planta do pé até à cabeça não havia nele defeito algum” (2 Samuel 14:25), ain- da que não temia a Deus e tenha perecido em seus pecados. Como muitas mulheres têm usado seus atrativos pessoais para seduzir os homens em vez de exaltar a Deus. Como o homem abastado e bonito tem utilizado seus dons para a auto-glorificação, em vez de usá- los para o louvor de Deus. Mas a beleza da santidade sempre redunda em honra do seu Autor.
“Adorai o Senhor na beleza da santidade”. Este é o único tipo de beleza que o Senhor Se importa em nossas devoções. “A santidade é para a alma como a luz é para o mundo, para ilustrá-la e enfeitá-la. Não é a grandeza que nos coloca diante de Deus, mas a piedade” (Thomas Watson). Deus não Se deleita em arquitetura enfeitada e vestes caras. É a beleza da pureza interior e santidade exterior que agrada ao Três-Vezes-Santo. Sinceridade de coração, fervor de espírito, reverência de comportamento, o exercício da fé, as saídas do amor são alguns dos elementos que compõem a “beleza da santidade” em nossa adoração.
O que as Escrituras nos ensinam sobre o Jejum?
Por José Eduardo
A importância do jejum como disciplina espiritual
A Bíblia apresenta o jejum como algo praticado pelo povo de Deus ao longo da história. E Jesus não deixou de falar sobre isto. Há um texto muito importante na asseguração de que o jejum é algo que deve estar em nossa disciplina espiritual. Disse Jesus: “Quando jejuardes ...” (Mt 6.16). Claramente a ideia aqui é que Jesus espera que os seus discípulos jejuem. Isto está muito evidente quando em conexão com o capítulo, este versículo se associa a outras duas outras práticas mencionadas por Jesus: “Quando, pois, deres emola ...” (Mt 6.2) e “Quando orardes ...” (Mt 6.5). Jesus não está perguntado “quando vocês vão fazes estas coisas?”, mas está afirmando que vocês vão fazer estas coisas. Sabemos por exemplo que a oração é um elemento da armadura de Deus da qual o cristão deve considerar indispensável. Paulo aos Efésios diz: “orando em todo tempo no Espírito” (Ef 6.18). A oração é sem dúvida mencionada em várias partes da Bíblia como algo a ser feito e que tem enorme impacto na vida daqueles que assim se portaram. E isto se aplica ao jejum também.
Os exemplos Bíblicos nos ajudam a entender o valor e propósito do jejum
O Livro de Atos registra que diversos ministros da igreja estavam jejuando em associação com a oração antes de tomarem importantes decisões (At 13.1-3; 14.23). O. jejum e oração frequentemente andam juntos (Lc 2.37). A luz da Escrituras verificamos que o jejum e a oração são equivalentes como disciplina espiritual, estando ambos juntos na prática de vida da igreja. Mas impressiona-nos que, existam entre nós aqueles que desconsideram totalmente que o jejum não tem qualquer valor, imaginando alguns que esta é uma prática abolida na igreja, o que não é verdade.
Desviando nossos olhos das coisas deste mundo, podemos melhor voltá-los para Cristo. Jejuar não é uma maneira de conseguir de Deus o que queremos. O jejum muda a nós, não a Deus. Jejuar não é uma maneira de parecermos mais espirituais do que os outros. Jejuar é algo a ser feito em espírito de humildade e atitude alegre. Mt 6.16-18 declara: “E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.”
Uma noção teocêntrica sobre a prática do jejum
Alguns irmãos têm atribuído o jejum como prática de um seleto grupo. Se de fato em momento de ruptura com os ensinamentos mais rudimentares sobre o jejum, alguns do que são chamados de crentes tradicionais se afastaram desta prática por motivos estes relacionado a ideia do cessacionismo, por outro lado, não é verdade que o jejum seja uma prática de grupos seletos. Lewis Bayly em sua obra “A Prática da Piedade” diz:
“Quem primeiro ordenou um jejum foi Deus no paraíso, e com ele foi relacionada a primeira Lei formulada por Deus, quando ordenou a Adão que se abstivesse do fruto proibido. Deus só pronunciou a escreveu a sua Lei com o seu povo praticando o jejum (Lv 23), e na sua Lei Ele ordena a todo o seu povo que jejue. É o que também o que o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo ensina a todos os seus discípulos sob o Novo Testamento, assumindo o jejum como prática normalmente aceita (Mt 6.17; 9.15) [...] Em nenhum outro aspecto a natureza e a graça concordam melhor do que no que se refere ao exercício do jejum religioso, pois esta prática traz estes benefícios: fortalece a memória e aclara a mente; ilumina o entendimento e refreia os sentimentos; mortifica a carne, impede doenças e mantém a saúde; livra de males e proporciona toda espécie de bênçãos. Pela quebra deste jejum, Adão foi derrotado pela serpente e perdeu o Paraiso. Contudo, por observar o jejum, o segundo Adão venceu a serpente e nos restaurou o céu.”[1]
Bayly era um puritano do século VII, um homem de origens calvinistas. Por ser anglicano, hoje ele seria facilmente taxado daquele típico indivíduo de denominação tradicional, apelidado de frio, cético e formalista. A origem dos chamados tradicionais é esta apresentada por Bayly, que, entende que jejum não é uma prerrogativa de um grupo seleto, mas é aplicado e ordenado por Deus. Este jejum imputa bênçãos celestiais, como também nos disciplina e mortifica. Portanto, o jejum tem uma aplicação e uma estrutura teológica que o afirma. Amados em Cristo é bom que saibamos que estamos lindando com uma prática comum, teológica, ordenada e praticada no povo de Deus. Portanto o jejum é uma disciplina do povo de Deus, e mesmo que uma minoria não entenda que o jejum seja para os nosso dias, devemos orar por eles, instruir, e não divulgar a ideia falsa de que um grupo seleto está defendendo e praticando o jejum, pois isto é uma mentira quando sentamos com muitos irmãos de diversas orientações espirituais mais históricas.
O jejum particular e coletivamente
Ambos estão nas Escrituras. Na Nova Aliança, o jejum não está subjugado a nenhum artifício da Lei, mas é uma disciplina comum dos cristãos e que sempre foi praticado de livre propósito como podemos ver em Rm 14.3 e 1 Co 7.5 ou quando existia uma ocasião que entendiam ser necessário o jejum. Neste caso, quando Jesus é interrogado quanto a fata de habito de jejum dos seus discípulos, Jesus deu uma resposta que é muito simples. Quando Jesus está com seus discípulos eles não precisam jejuar, pois estão em plenitude de comunhão celestial com o Cristo revelado em carne. Mas haveria um dia em que não desfrutariam dessa plenitude, dessa totalidade até aquele voltasse, então, aí sim, eles jejuariam (Mt 9.15).
O sentido do jejum aqui é enfatizado na nossa necessidade de buscar estar bem perto de Cristo e isto era demonstrado quando se abria mão de um alimento terreno. Aqui, nesta ocasião Jesus está falando tanto do jejum particular quanto coletivo. Os discípulos jejuariam particularmente ou coletivamente segundo Jesus apresenta no texto. Mas para que entendamos que o jejum coletivo também era prática mesmo na Nova Aliança é só notarmos que Jesus diz estas palavras enquanto os discipulos estavam reunidos, e enquanto comiam, logo, elas serviriam para lhes incentivar ao jejum coletivo, na sua ausência em carne.
Este jejum particular ou coletivo pode ser visto em muitos outros textos Bíblicos, tais como 2 Sm 3.35; Ed 10.6; Dn 10.3; Et 4.16 e At 9.9, sempre com aquele jejum comum de abstenção de alimentos sólidos e líquidos. As vezes as pessoas se negam a fazer o jejum coletivo, com algum pretexto de que ela já faz isso em particular. No entanto, quando dois ou mais estão engajados em algum propósito espiritual, numa resposta sobre a vontade de Deus, ou até mesmo na busca pelo livramento e bênção do povo de Deus, o jejum coletivo foi utilizado e registrado para que com ele aprendêssemos dessa disciplina na vida comunitária. Veja os casos de Et 4.16, quando a rainha vendo o perigo que o povo sofria, com as tramas de Hamã. Ela fez uma convocação de todo o povo de Deus que habitava na Pérsia para que ele obtive a atenção e o favor do rei Assuero. Veja que o jejum, estamos também falando do jejum coletivo, é uma prático do povo de Deus no Antigo Testamento e no Novo Testamentos Lemos que em At 13.1-4, os ministros da igreja estavam em jejum, bem como em oração, quando eles pediram a Deus que separassem a Paulo e Barnabé para o mistério com eles. Conforme o texto mesmo diz, estes ministros estavam "servindo ao Senhor e Jejuando" (At 13.2). O jejum coletivo tem importância para obtenção das respostas que vão além das minhas próprias necessidades, pois isto visa o avanço do Reino de Deus, mas também demonstra o quanto o povo de Deus está unido naquele propósito.
Objetivos do jejum
Em primeiro lugar, nós sujeitamos a Deus a nossa carne, o que não quer
dizer que façamos isso de forma desproporcional a ponto de enfraquecermos e
deixamos de cumprir com nossos deveres da nossa vocação. Em segundo lugar, para
que possamos meditar com maior disciplina para que no fim derramemos nossas
almas em oração a Ele (Jl 2.17; Lc 2.37; 1 Co 7.5). E em terceiro lugar,
aprendemos que o jejum ter sua eficácia no combate espiritual, sabendo que há
certas castas de demônios que só são subjugados com jejum e oração (Mc 9.28,
29).
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[1] A Prática da Piedade, Lwies Bayly, pg. 244
Reconciliando-me com Deus
Por José Eduardo
A Bíblia diz que Cristo nos reconciliou com Deus (Romanos 5.10; 2 Coríntios 5.18; Colossenses 1.20-21). O fato de que precisávamos de reconciliação significa que nosso relacionamento com Deus estava quebrado. Já que Deus é santo, a culpa era toda nossa. Nosso pecado nos separou de Deus. Romanos 5:10 diz que éramos inimigos de Deus: “Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.”[1]
Vamos dar lugar a culpa ou a oportunidade de reconciliação?
Sim, de fato a bíblia afirma que temos culpas, há responsabilidades em nossos atos, “porque todos pecaram” (Romanos 3.23), e quem diz que não tem pecado se faz mentiroso (1 João 1.10). Mas esta é só uma parte da verdade, pois a Bíblia também afirma que para o pecador há um Advogado (1 João 2.1),e que Cristo nos perdoa e nos dá vida quando os pecados ainda são do nosso conhecimento (Efésios 2.1). Por isso temos que escolher entre ficar pensando somente na culpa ou vamos nos aproximar de Deus com confiança, sinceridade e arrependimento? Pois Não há nenhum prazer em Deus em nos deixar debaixo de culpa, uma vez que ele nos amou de uma maneira acima de nossas expectativas (João 3.16).
Quer se arrepender? Você sabe do que?
As vezes dizemos que não sabemos por onde começar. A Bíblia nos ajuda quando diz: “lembra-te, pois, de onde caístes” (Apocalipse 2.5). A primeira coisa que devemos fazer e buscar lembrar onde foi o erro. Este conhecimento sobre ele nem sempre é total, mas gradual. A medida em que você toma conhecimento dos seus próprios pecados a Bíblia diz que você não deve ficar só no conhecimento da culpa, mas (1)que você pode e deve apresenta-las a Deus, (2)arrepender-se (3)e voltar a prática das boas obras – “ (Apocalipse 2.5). Não existe razões para ficarmos “segurando a ponta da corda”, solte-a, confie na graça, na obra de Deus para sua reconciliação. “E é, por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus” (2 Coríntios 3.4)
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[1]
Trecho extraído de Artigo -
https://www.gotquestions.org/Portugues/reconciliacao-Crista.html
O Que é a Piedade?
Por John Bunyan
“Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna. Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens” (Tito 3:7-8).
“Fiel é a palavra”. Qual? Ora, aqui que foi dito anteriormente: “Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna. Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes”. Por quê? “Para que os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras”. O significado é que o modo correto de estimular os outros às boas obras está na constante evidência e demonstração da certeza que os crentes têm de serem, pela graça, herdeiros da vida eterna. Portanto, a partir dessa passagem da Escritura, observo o seguinte:
PRIMEIRO, que as boas obras fluem da fé. Sim,
SEGUNDO, todo
aquele que crê deve cuidar para que as suas obras sejam boas.
TERCEIRO, que
todo crente não apenas deve tomar cuidado para que pratique boas obras, mas
também deve ter cuidado em perseverar nelas; isto é, eles devem se aplicar
cuidadosamente à prática contínua de boas obras.
QUARTO, e
finalmente, observo que a melhor maneira de estimular a nós mesmos e aos outros
a essas obras é afirmar constantemente aos outros a doutrina da justificação
pela graça, e crer nela. Paulo diz: “Fiel é a palavra, e isto quero que deveras
afirmes, para que os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras”.
As boas obras fluem da fé. Isso é evidente de várias
maneiras
Primeiro, é impossível que as boas obras fluam de qualquer outra coisa. Elas devem fluir da fé, ou não fluirão de nenhum outro lugar: “Pois tudo o que não procede da fé é pecado” (Romanos 14:23). E “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11:6). Todo homem por natureza, antes da fé, é uma árvore má e corrupta; e uma árvore corrupta não pode dar bons frutos: “Os homens colhem uvas de espinhos ou figos de cardos?” (Mateus 7:16-17). Agora, é somente depois que um homem é transformado em uma árvore boa através da fé que ele pode produzir os frutos que são aceitáveis a Deus (Hebreus 11:4; Colossenses 1:4-6).
Portanto, os pecadores antes de chegarem a crer comparados ao deserto, cujos frutos são espinhos e cardos; e cujos corações são como um covil de dragões, ou seja, de demônios[3] (Isaías 35:6-7; Hebreus 6:7-8). E, portanto, em outras passagens eles são descritos aqueles que estão sem Deus, sem Cristo, sem o Espírito, sem fé, sem esperança, alheios ao Pacto da Graça e fracos; e ainda outras passagens bíblicas os descrevem como inimigos em suas mentes pelas obras perversas e possuídos por um espírito de perversidade, como um castelo tomado por um conquistador (Efésios 2:12; Judas 19; 2 Tessalonicenses 3:2; Colossenses 1:21; Lucas 11:21).
Agora, sendo assim, é impossível que todos os homens sob o céu, que não são convertidos, sejam capazes de realizar uma obra que seja realmente boa; é tão impossível quanto o é a todos os espinhos e cardos produzirem um cacho de uvas ou figos; pois de fato eles carecem de qualificação. Um espinheiro não produz figos, porque não possuem a natureza da figueira ou da videira. Boas obras devem vir de um bom coração. Ora, o incrédulo não possui um coração bom, pois não crê e é a fé que purifica o coração (Lucas 6:45; Atos 15:9). As boas obras devem proceder do amor ao Senhor Jesus; mas o incrédulo está destituído desse amor, pois ele está destituído de fé e é ela que “opera pelo amor”, e isso significa fazer o bem (Gálatas 5:6).
Embora o homem carnal faça o que ele pode chamar de bom, ele é rejeitado, pois, as suas orações são abomináveis (Provérbios 15:8), a sua lavoura é pecado (Provérbios 21:4) e todas as suas justiças são como trapos imundos (Isaías 64:6).
Veja que sem fé não há boas obras. Agora, então, mostrarei a você que essas boas obras fluem da fé, pois essa fé é um princípio de vida pelo qual um cristão vive (Gálatas 2:19-20), um princípio de ação, pelo qual ele caminha em direção ao céu em santidade (Romanos 4:12; 2 Coríntios 5:7). Ela é também um princípio de força, pelo qual a alma se opõe à sua própria maldade, ao Diabo e a este mundo, e os vence. “Esta é a vitória... a nossa fé” (1 João 5:4-5). A fé no coração de um cristão é como o sal que foi jogado nas águas más, e que transformou em águas boas, e também transformou em frutífera a terra estéril (2 Reis 2:19-22). A fé, quando operada no coração, é como o fermento escondido na massa (Mateus 13:33) ou como o perfume que aromatiza o couro mau cheiroso, transformando o cheiro do couro em um doce perfume; quando a fé é plantada no coração, ele passa a se inclinar naturalmente para a santidade. Por isso, segue-se uma mudança de vida e da conversação, e assim produz frutos de acordo com tal transformação. “Um homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira coisas boas” (Lucas 6:45). Que tesouro é a fé! (Tiago 2:5; 1 Pedro 1:7). E, por causa disso, essa fé é chamada de “fé segundo a piedade” (Tito 1:1) e de “santíssima fé” (Judas 1:20).
Segundo, as boas obras necessitam fluir da fé, ou não procederão de lugar algum; porque somente a fé traz consigo um argumento suficientemente prevalente para vencer a nossa natureza e fazê-la obedecer à santidade.
A fé nos mostra que Deus nos ama, que Ele perdoa os nossos pecados, que nos considera Seus filhos, ao nos justificar livremente pelo sangue do Seu Filho (Romanos 3:24-25, cap. 4; Hebreus 11:13; 1 Pedro 1:8).
A fé recebe a promessa, a toma para si e consola a alma de modo inefável. A fé é tão habilidosa em argumentar e arrazoar com a alma, que vencerá até mesmo o coração mais duro. A fé trará à minha lembrança de uma só vez tanto a minha vileza contra Deus quanto a Sua bondade para comigo; ela me mostrará que embora eu não mereça sequer respirar, Deus me fará um herdeiro da glória. Ora, não há argumento maior que esse. Ele fará um homem passar por dez mil dificuldades, para que possa agradar a Deus, ainda que não faça isso por si mesmo, mas pela graça concedida a ele. Além disso, a fé me mostrará quão distintamente esse amor de Deus foi posto sobre mim e me mostrará que embora Esaú fosse irmão de Jacó, Ele amava Jacó (Malaquias 1:2). Que embora houvesse milhares que eram tão bons quanto eu, contudo eu sou o homem escolhido. Ora, esse é um argumento maravilhoso e indescritivelmente prevalecente para com o pecador, como diz o apóstolo: “Porque o amor de Cristo nos constrange; porque assim julgamos que se um morreu por todos, então todos morreram; e que ele morreu por todos; que aqueles que vivem”, ou seja, pela fé “não devem mais viver para si mesmos, mas para aquele que morreu por eles e ressuscitou” (2 Coríntios 5:14-15). “O amor”, diz o sábio, “é forte como a morte; as muitas águas não podem apagar o amor, nem as inundações o afogam: se um homem desse toda a soma de sua casa pelo amor, seria totalmente desprezado” (Cântico 8:6-7). Ah! quando a alma condenada, quebrantada e moribunda consegue ver, pela fé, o amor de um Salvador de coração terno, e também vê o que Ele sofreu para libertá-lo da morte, da culpa e do inferno, então ela teme por saber dessa maldição que ela muito justamente merecia! “Bendize, ó minha alma, ao Senhor” (Salmos 103:1-3); e “o que darei ao Senhor por todos os Seus benefícios?” (Salmos 116:1-14).
Assim, a fé é um argumento que prevalece com o pecador, pelo qual ele deixa de ser o que era, e é forçado a se curvar e se submeter ao que antes ele não queria nem poderia (1 Coríntios 2:14; Romanos 8:7). Por isso a obediência ao Evangelho é chamada de “obediência da fé”, bem como obediência à fé (Romanos 16:26). Pois ela deve acontecer pela fé de Cristo em meu coração, por meio da qual me submeto à Palavra da fé na Bíblia; caso contrário, tudo será inútil, como diz o apóstolo: “A palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram” (Hebreus 4:2). Somente a fé pode ver a realidade que o Evangelho revela; e assim, argumentar com o coração para que a receba.
Terceiro, a fé é uma graça, pois representará para a alma todas as coisas em suas cores apropriadas. Ela não mostra todas as coisas distorcidas, como o fazem a incredulidade e a ignorância, as quais chamam a luz de trevas e o amargo, de doce; mas a fé nos fará ver corretamente todas as coisas. Deus e Cristo serão vistos como o bem maior, o mais amável e o mais desejável; uma vida celestial será mais estimada e preciosa para nós do que todos os tesouros do Egito! A justiça e a santificação serão as coisas pelas quais nós lutaremos com mais veemência; porque ela não vê a morte e a condenação apenas como frutos do pecado, mas vê também o pecado em si mesmo, distinto do castigo que lhe acompanha, como algo detestável, horrível e odioso (Hebreus 11:25-27; Filipenses 3:7-12; Romanos 12:9).
Pela fé, vemos que não há lugar permanente para nós neste mundo, e nem algo que possa nos satisfazer (Provérbios 3:35; Hebreus 11:15-16, 13:14; 1 Coríntios 7:9-31). Por isso o povo de Deus tem gemido para sair daqui, para um estado onde não há pecado e nem tentação. E, é por isso que eles têm passado por tantas provações, aflições e adversidades, a saber, por causa desse amor à santidade de vida comunicado a eles pela fé que há em seus corações, e lhes mostrou valor e a durabilidade daquilo que é realmente bom, e a malignidade de todas as demais coisas (2 Coríntios 5:1- 8; Hebreus 11:33-39). Quarto, a fé se apossa daquilo que é capaz de ajudar a alma a realizar as boas obras: ele se apossa da força de Cristo, e com isso vence aquilo que a oprime. “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Filipenses 4:13).
Em resumo, uma vida de santidade e piedade neste mundo segue tão inseparavelmente um princípio de fé, que é algo absurdo e ridículo supor o contrário. O quê? Aquele que tem vida não consegue se mover? (Gálatas 2:20). Aquele que pela fé recebeu o espírito de santidade, não será santo? (Gálatas 3:2), e aquele que é chamado à glória e à virtude, não acrescentará à sua fé a virtude? (2 Pedro 1:4-5). Pela fé somos transformados em boas árvores, e não produziremos bons frutos? (Lucas 6:43). Os que creem são criados em Cristo Jesus para boas obras; e Deus ordenou, antes que o mundo existisse, que andássemos nelas; e será que nossa segunda criação e a preordenação de Deus serão frustradas? (Efésios 1:4, 2:10). Além disso, os filhos da fé são os filhos da luz e do dia (1 Tessalonicenses 5:5). Luzes sobre uma colina e velas em um castiçal, porventura não brilharão? Eles são o sal da terra, não devem temperar? (Mateus 5:13-16).
O crente é o homem por meio de quem Deus mostra ao mundo o poder de Sua graça, a operação da fé do Seu povo etc. Os incrédulos leem de fato o poder da graça, fé, esperança, amor, alegria, paz e santificação a partir do coração do cristão; mas eles não sentem nada dessa operação mortificadora do pecado que há nessas coisas; para eles ler isso é como ler uma história acerca de Roma ou da Espanha. Portanto, para mostrá-los àqueles que não os têm em si mesmos, Deus opera a fé, a esperança, a amor etc., em uma geração que O servirá; e assim, verão o que não podem encontrar em si mesmos; e por esse meio eles devem ser convencidos de que, embora o pecado e os prazeres desta vida sejam doces para eles, ainda assim há um povo que vive de modo diferente; um povo que de fato vê a glória daquilo que os outros apenas leem, e a partir dessa visão se deleita naquelas coisas às quais os demais são avessos. Afirmo que os cristãos são chamados para esse fim e para glorificar a Deus por esse meio; assim os pecadores são convencidos e o mundo é condenado (1 Tessalonicenses 4:7; 1 Pedro 2:12, 3:1; Hebreus 11:7).
Objeção
Mas se a fé causa naturalmente boas obras, qual é a razão pela qual o povo de Deus acha tão difícil ser frutífero em boas obras?
Resposta
1. O povo de Deus é frutífero em boas obras, de acordo com a proporção de sua fé; se eles são tem poucas boas obras, é porque são fracos na fé. Pouca fé é como velas pequenas, ou fogo fraco, que os quais, embora brilhem e emitam calor, brilham e aquecem pouco, quando comparadas com velas e chamas maiores. A razão pela qual havia em Sardes algumas pessoas cujas obras não eram perfeitas diante de Deus, foi porque elas não mantiveram firmemente, através da fé, a Palavra que anteriormente ouviram e receberam (Apocalipse 3:1-3).
2. Pode haver um grande erro ao julgar os nossos próprios frutos. A alma que, de fato, é sincera tem um coração reto, é ensinada pela graça a julgar a si mesma como estéril, embora seja frutífera, e isso sob dois aspectos: (1.) Quando ela compara a sua vida à misericórdia que lhe é dada: pois quando uma alma realmente considera a grandeza e as riquezas da misericórdia que lhe são concedidas, deve necessariamente clamar: “Miserável homem que eu sou” (Romanos 7:24), pois se vê grandemente aquém da conduta de alguém que recebeu um benefício tão grande. (2.) Também pode julgar-se estéril porque fica muito aquém do que deseja: “...para que não façais o que quereis” (Gálatas 5:17).
3. O coração de um cristão é naturalmente muito estéril. Embora a semente da graça, que é a mais frutífera de todas as sementes, seja semeada nele, o coração está naturalmente sujeito a produzir ervas daninhas (Mateus 15:19). Agora, para obter uma boa colheita a partir de tal solo, observe quão fecunda é a semente! Portanto, concluo: (1) Que a semente da fé é uma semente muito frutífera, na medida em que dará frutos em um solo tão árido. (2) Que essa fé não se deve ao coração, mas o coração deve à fé toda a sua fecundidade. (3.) Que, portanto, o caminho para ser um cristão mais frutífero é ser mais forte na fé.
Todo aquele que crê deve cuidar para que as suas obras sejam boas. Continuaremos a falar sobre o que foi dito antes, ou seja, o coração de um cristão é suscetível a produzir ervas daninhas. Há carne e espírito no melhor dos santos; e como o espírito da graça sempre produz algo que é bom, assim também a carne produz continuamente o que é mau. “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne” (Gálatas 5:17). Essa é a causa pela qual você encontra com tanta frequência nas Escrituras exortações e advertências para os cristãos vigiarem quanto às suas vidas e condutas, como por exemplo: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração” (Provérbios 4:23). “Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos” (1 Coríntios 16:13). “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gálatas 6:7-8).
Nem todas as obras são boas, ainda que pareçam ser. Uma coisa é um homem estar certo aos seus próprios olhos, e outra é estar certo aos olhos de Deus. Frequentemente “aquilo que é altamente exaltado entre os homens é abominação diante de Deus” (Provérbios 30:12; Lucas 16:15).
Vendo que a corrupção ainda não foi expurgada de nossa natureza, há uma propensão em edificarmos sobre o fundamento certo, porém, usarmos madeira, feno e palha, em vez de ouro e prata e pedras preciosas (1 Coríntios 3:11-15) ) Como Davi, o rei; Natã, o profeta; e Uzá, o sacerdote, se enganaram no que se refere às boas obras! (1 Crônicas 17:1-4; 13:9-11). Pedro também se equivocou ao defender o seu Mestre no jardim e ao buscar dissuadi-lo de seus sofrimentos, embora tenha agido por amor e afeição ao seu Mestre, ele se enganou ao pensar que aquilo seriam boas obras (Mateus 16: 22-23; João 18:10-11). Muitos têm errado quanto à doutrina e ao culto, e quanto à prática de ambos.
Em primeiro lugar, quanto à doutrina. Cristo diz aos judeus que eles ensinavam doutrinas e tradições de homens em vez das doutrinas de Deus (Mateus 15:9; Marcos 7:7). O apóstolo também afirma que eles ensinavam “o que não convém, por torpe ganância” (Tito 1:11).
Em segundo lugar, quanto ao culto, descobrimos que com frequência os homens se enganam, quanto ao tempo, lugar e essência, do que adoravam.
1. Quanto ao tempo. Ocorre quando o homem inventa o que Deus não ordenou (1 Reis 12:32). Eles “mudam os estatutos”, diz Isaías 24:5. Eles transformam “em impiedade os juízos de Deus”, diz Ezequiel 5:6.
2. Quanto ao lugar. Quando deveriam ter adorado em Jerusalém, adoravam em Betel, Gilgal e Dã, nos jardins, bosques e sepulcros (1 Reis 12:26-30; Oséias 4:13-15; Isaías 65:2-5).
3. Quanto à essência do que adoravam. Em vez de cumprirem os mandamentos, traziam para o sacrifício os coxos, dilacerados e enfermos; eles se santificavam em jardins, comiam carnes de porcos e ratos, quando deveriam fazê-lo em Jerusalém, com novilhos e cordeiros (Isaías 66:17).
Em terceiro lugar, quanto ao zelo dos homens pela adoração que eles pensam ser correta; como eles são fervorosas, embora não possuam nenhum entendimento? Nabucodonosor terá sua fornalha ardente, e Dario, seu covil para os não-conformistas, aqueles que não se conformam às suas leis (Daniel 3:6, 6:7 etc.). Tais homens perseguiram seus semelhantes até cidades estranhas; colocaram armadilhas e laços em todos os lugares, a fim de prendê-los e enredá-los em suas palavras; e se eles pudessem, a qualquer momento, matar as pessoas de quem discordavam, fariam isso e ainda pensariam estar prestando um bom serviço a Deus (Atos 26:11; Lucas 11:53-54; João 19:1-2). Mas não precisamos ir tão longe para confirmar as minhas palavras. Não precisamos de nada além dos papistas e seus companheiros para confirmar isso. Em todas as épocas, quantas pessoas eles enforcaram, queimaram, mataram de fome, afogaram, torturaram, desmembraram e assassinaram, abertamente e em secreto? E alegaram fazer tudo isso em nome de Deus, para adorá-lO e fazer e boas obras.[4] Assim, você vê como homens sábios e tolos, santos e pecadores, cristãos e pagãos, erram na questão das boas obras; portanto, todos devem cuidar para que as suas obras sejam boas.
Com a ajuda de Deus, para evitar erros neste assunto, mostrarei a você o que é uma obra realmente boa. Primeiro, uma boa obra deve ter a Palavra de Deus como sua autoridade. Segundo, como antes foi dito, ela deve fluir da fé. Terceiro, ela deve ser feita no tempo e de modo certo. Em quarto lugar, deve ser feita de modo voluntário, alegre etc.:
Em primeiro lugar, deve ter a Palavra como sua autoridade. O zelo sem entendimento é como um cavalo cego, ou como uma espada na mão de um louco; e não há entendimento onde não há a Palavra, pois se rejeitam a Palavra do Senhor e não agem em conformidade com ela, “que sabedoria há neles?” diz o profeta (Jeremias 8:9; Isaías 8:20). Portanto, cuide para que a Palavra seja a regra para tudo que você faz.
Em segundo lugar, assim como deve haver a Palavra para autorizar o que você faz, também deve haver a fé, de onde as obras devem fluir, como já mostrei: “Pois tudo o que não procede da fé é pecado” e “sem fé, é impossível agradar a Deus”. Ora, sem a Palavra não há fé (Romanos 10:17: como sem a fé não pode haver nada que seja bom, não importa quaisquer que sejam as pretensões humanas).
Em terceiro lugar, como deve haver a Palavra e a fé, também deve haver: 1. O tempo certo; e 2. O lugar certo.
1. Deve haver o tempo certo. As obras não devem ser feitas todas ao mesmo tempo, pois nem sempre o tempo é conveniente para cada uma delas. “Tudo tem o seu tempo determinado” (Eclesiastes 3:1) e “Tudo fez formoso em seu tempo” (v. 11). Há tempo para orar, tempo para ouvir, tempo para ler, tempo para conversar, tempo para meditar, tempo para agir e tempo para padecer. Agora, ouvir quando deveríamos estar pregando e agindo, ou seja, rendendo obediência ativa àquilo pelo qual devemos sofrer, não é bom. Cristo era muito cuidadoso, pois os Seus feitos e sofrimentos ocorriam no tempo exato (João 2:3-4; 13:1-2). E nós devemos seguir os Seus passos. Estar no campo com as mãos no arado quando eu deveria estar ouvindo a Palavra, não é bom; e estar conversando com os de fora quando eu deveria estar instruindo minha família em casa, é ruim também: “Assim, quem sabe obedecer suas ordens não sofrerá punição alguma, porquanto o coração sábio compreenderá a melhor hora e a maneira certa de agir” (Eclesiastes 8:5, KJA). As coisas boas feitas no tempo errado são infrutíferas, inúteis e vãs.
2. Assim como as coisas devem ser feitos no tempo certo, assim também devem ser feitas no lugar certo; pois o engano quanto ao lugar de qualquer obra é tão ruim quanto a confusão em relação ao seu tempo apropriado. Com isso quero dizer que não devemos considerar qualquer obra mais do que a Palavra de Deus permite, e nem menos. Hortelã, endro e cominho não são assuntos tão importantes quanto a fé e o amor de Deus, como vemos em Mateus 23:23. Quando um pastor exercer o ofício de um diácono, em vez do ofício pastoral, ele está se desviando de suas obras apropriadas (Atos 6:2). O fato de Marta estar preocupada em servir a Cristo, quando na verdade ela deveria estar sentada aos pés dEle para ouvir a Sua palavra, era uma obra imprópria; e se sua irmã tivesse feito o mesmo, como ela pediu, embora a coisa em si fosse boa, Maria também teria cometido um pecado (Lucas 10:39-42). Agora, para nos prevenir de atribuir uma posição inadequada às boas obras, podemos observar o seguinte:
(1.) As boas são mal posicionadas quando colocadas no lugar de Cristo (Romanos 10:1-3).(2.) Elas também estão no lugar errado quando competem com Cristo (Romanos 9:31-32; Atos 15:1). Isso equivale a nos colocarmos no lugar de Deus e estabelecermos a justiça do homem ao invés da justiça de Cristo (Ezequiel 43:7-8). Os que fazem isso e ainda se dizem ser mestres da lei, não sabem o que dizem nem o que afirmam (1 Timóteo 1:7).(3) As obras boas também são colocadas no lugar errado quando atribuímos a uma obra menor a honra que pertence a uma obra mais nobre. E assim acontece com: (a.) Aqueles que consideram a parte cerimonial de uma ordenança tão boa quanto a doutrina e o significado dela. (b) Aqueles que consideram os ditames e impulsos de uma consciência meramente natural, tão bons, elevados e divinos quanto as orientações e ações do Espírito de Cristo. (c) Aqueles também que consideram ser o suficiente fazer pelo menos uma pequena parte daquilo que Deus ordenou, em vez de considerar tudo o que foi ordenado e até mesmo as coisas mais necessárias e difíceis. (d) Também colocam as obras no lugar errado aqueles que se preocupam com as coisas indiferentes como se fossem as coisas mais absolutamente necessárias para o culto a Deus. (e) Ainda mais grosseiros são aqueles que colocam as tradições dos homens acima ordenadas por Deus. (f) E os piores são os que consideram o amargo como doce e as trevas, como luz. Todas essas coisas devemos evitar como sendo um impedimento absoluto para boas obras.
Portanto, quanto às boas obras, a obediência é melhor do que o sacrifício; ou seja, fazer as coisas de acordo com a Palavra de Deus é melhor do que fazê-las de acordo com minha imaginação e com o que acho ser melhor (1 Samuel 15:22). “Portanto, tudo seja feito com decência e ordem” (1 Coríntios 14:40).
Em quarto lugar, assim como as boas obras devem ser ordenadas e qualificadas, como vimos anteriormente, assim também elas devem ser feitas de coração, de boa vontade, com simplicidade e amor, de acordo com as capacidades de cada um (1 João 5:3; 2 Coríntios 9:7; Romanos 12:8; Colossenses 3:12; 1 Coríntios 10:24; 2 Coríntios 8:12).
Além disso, há três coisas que um homem deve ter em mente em toda a obra que realiza. 1. A honra de Deus (1 Coríntios 6:20). 2. A edificação do seu próximo (1 Coríntios 14:26). 3. A conveniência ou não do que devo fazer (1 Coríntios 6:12). E deve cuidar para que sempre a honra de Deus esteja envolvida na edificação do seu próximo; e a edificação do seu próximo na conveniência daquilo que você faz.
Novamente, se você deseja a edificação do seu próximo e que deus seja honra aos olhos das pessoas que lhe observam, tome cuidado para:
1. Que você se humilhe em suas palavras e conduta de modo que Cristo em Seus preciosos benefícios seja manifestado com clareza, e vigie para que não venha a contender acerca de questões duvidosas com os fracos (Romanos 15:1). Mas lide principalmente, com amor e sabedoria, com as consciências deles sobre os assuntos que tendem a promover a sua confirmação na fé de sua justificação e libertação da morte e do inferno. “Sustenteis os fracos”, confirme os fracos (1 Tessalonicenses 5:14).
2. Se você for mais forte que seu irmão, cuide para que não faça diante dele o que pode ofender a sua consciência fraca. Falo sobre as coisas que em si mesmas podem ser legítimas. Nem tudo o que é lícito convém, nem tudo o que é lícito edifica (1 Coríntios 6:12). Portanto, aqui está a sua sabedoria e o amor: que você se prive de algumas coisas lícitas por amor ao seu irmão. “Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize” (1 Coríntios 8:13). Portanto, tenha essa fé para si mesmo diante de Deus (Romanos 14:22). Mas se você andar de outro modo, saiba que não anda conforme o amor e, portanto, não edifica o próximo e nem honra a Cristo, mas antes peca contra Jesus e fere o seu irmão fraco, por quem Ele morreu (Romanos 14:15; 1 Coríntios 8:12). Entretanto, faça tudo isso enquanto mantém os seus olhos na Palavra de Deus; cuide para não agir contra ela sob qualquer pretexto; pois sem a Palavra, é impossível agradar a Deus ou edificar nosso irmão. Portanto, porte-se “com inteligência no caminho reto” (Salmos 101:2-3).
Assim, após lhe mostrar brevemente o que é uma obra realmente boa, imploro em nome do Senhor Jesus Cristo que você pratique boas obras de modo consciente, para que, enquanto viver aqui, seja um vaso de honra, adequado para o uso do Mestre e preparado para toda boa obra (1 Timóteo 6:18). Estude para aprovar as coisas excelentes, “para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo” (Filipenses 1:10). Busque a comunhão com Deus: “Procurai com zelo os melhores dons” (1 Coríntios 12:31). Ah, quanto a nós — que somos redimidos dentre os homens (Apocalipse 14:4), e que nos alegramos na esperança da glória de Deus (Romanos 5:2), nós que aguardamos a bendita esperança e a gloriosa aparição do grande Deus, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Tito 2:13) — “que pessoas nos convém ser em santo trato e piedade” (2 Pedro 3:11)!
Para concluir, para a maior edificação de vocês façam um examinem a si mesmo quanto aos seus vários deveres e obras de modo geral, aos quais Deus lhes ordena em Sua palavra, de acordo com suas posições, chamados e relações neste mundo.
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O
texto deste artigo foi é um trecho extraído do livro: “Piedade Cristã de John
Bunyan, (páginas 12-26) publicado pela Editora O Estandarte de Cristo. O livro
pode ser encontrado na íntegra em https://drive.google.com/file/d/1EUB-hzTysNmOlRo6T5R51f8MyxRdOD7f/view?usp=sharing
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